PAULO EMENDABILI Driblando o garrafão. São Paulo, entra ano e sai ano, torna-se um terroir plausível para o vinho fino tinto de mesa. É de todos sabido que para a grande maioria dos tomadores tupiniquins de vinho nacional, vinho bom é o vinho de sabor docinho e suave. Para mim, esse tipo de vinho é um suco roxo que sai do garrafão e que só serve para manchar definitivamente a toalha de mesa. São Roque, infelizmente, ganhou a pecha da terra do “vinho ruim”, feito com as uvas americanas (labruscas: Isabel, Bordô etc), dentre os apreciadores dos vinhos finos tintos, brancos, claretes e roses, feitos com as uvas europeias (viníferas: Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Shiraz etc). Contudo, São Roque, que contava com 150 vinícolas e tinha uma Festa do Vinho em seu calendário com esse tipo de vinho ruim, tem hoje cerca de 13 empresas sobreviventes, sendo que a celebração do vinho vem depois daquela respectiva à colheita da alcachofra, que acontece em outubro. Em Jundiaí, outro município de vinicultura, resistem quatro vinícolas, todas de vinho ruim, produzindo marcas conhecidas como Chapinha e San Tomé, além de alguns corajosos produtores artesanais. Mas essa realidade vem mudando, ano a ano. Ao contrário do que muita gente acredita, a origem do vinho no Brasil não é e nunca foi gaúcha. É paulista, iniciada por Braz Cuba na Capitania de São Vicente. Depois, colonos portugueses iniciaram o plantio das vinhas em Taubaté, que tinha clima mais favorável. Somente no século 19, após a devastação dos vinhedos europeus, sobretudo os franceses, pela filoxera, os imigrantes italianos introduziram no Brasil as uvas americanas, que são praticamente imunes à peste, e que se adaptaram melhor na região que as europeias, sabendo eles que estas uvas gerariam um vinho menor diante das vinhas europeias, vinho este utilizado praticamente para o consumo familiar e local. Saiu daí o chamado “vinho de mesa”, açucarado, com gosto de suco de uva, mas que domina 75% do consumo nacional, gerando renda ao produtor e ao vinicultor, mas que mistura, mais das vezes, aguardente, açúcar e corante, o que garante ao infeliz que o tomar, embriaguez fácil e ressaca difícil de curar. Mas que ninguém pense que no Rio Grande do Sul somente se produz os vinhos finos de mesa, pois que lá se encontram também os produtores dos rótulos Chalise e Sangue de Boi, gerando com esse tipo de vinho, ruim, receita suficiente para as muitas vinícolas gaúchas, garantindo lucros, enquanto paralelamente ganham prestígio e apoio da mídia com seus vinhos refinados. A produção de vinhos no Brasil, até muito pouco tempo atrás, seguia um padrão de tradição oral, ou seja, a técnica passava de pai para filho, na própria vinícola, tal como herdada dos avós europeus. Não havia enólogos no Brasil. Acreditava-se, e firmemente, que a uva devia ser colhida no verão, tal como na Europa. Só que na Europa, o verão, nos arredores do paralelo 33, é seco e quente. Aqui é quente e úmido, inclusive na Serra Gaúcha. Resultado: A uva colhida no verão brasileiro fica cheia de água, o teor de açúcar cai e, ao final do processo, se tem um vinho com pouco álcool, com os taninos diluídos, com baixa acidez, ou seja, uma porcaria de vinho. Foi indo assim, até que alguém teve a ideia de inverter o ciclo vegetativo da uva vinífera europeia em São Paulo. Podar a uva duas vezes, uma em janeiro, e outra em agosto. A poda de agosto faz com que surjam os ramos produtivos. A poda de janeiro faz com que os brotos se formem em fevereiro, floresçam em março, para os cachos começarem a se formar em abril, para ser a uva colhida em junho ou julho. Mas essa “pegada” não se aplica ao Rio Grande do Sul. O inverno de lá, além de úmido, é frio e escuro, o que diminui a fotossíntese e limita a maturação da uva. E não se aplica também ao Nordeste, dado o excesso de calor, a secura e a extrema luminosidade, que “queima” a uva. Contudo, a manobra cai como uma luva para São Paulo. Aqui o inverno é similar ao verão europeu, quente e seco. Após muitas pesquisas nas suas terras de São Roque, foi isso que Cláudio Góes, neto de uma linhagem centenária de vitivinicultores, percebeu. Góes, sem abrir mão do vinho ruim, o que lhe garante sobrevivência, passou a investir pesadamente no cultivo de uvas europeias, notadamente as cepas Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, ganhando com seus vinhos, medalhas de ouro, não aqui em São Paulo, mas em degustações às cegas, onde não se sabe a origem do vinho, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul... No momento, são muitos os investidores para que São Paulo seja o maior consumidor nacional e produtor de vinhos finos tintos. Neste empenho se encontram lado a lado a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), além de sindicatos patronais e secretarias de governo – o que incluiu até a redução pela metade do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o vinho paulista desde 2007. O Instituto Federal de São Paulo, campus de São Roque, abriu o primeiro e único curso de Viticultura e Enologia em território paulista. Por seu lado, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) cartografou e mapeou quatro regiões paulistas que podem produzir vinhos superiores a todos os demais de origem nacional, delimitando “polígono vitivinícola paulista”, que inclui São Roque, sendo que Jundiaí ficaria responsável por vinhos mais leves e a região de Franca a São Carlos produziria a variedade Shiraz, enquanto a de Jales produziria cepas de Sauvignon Blanc, indicada para espumantes brancos. Outra região mapeada foi designada “terras altas paulistas” e, otimizando a alternância entre o calor e o frio da Serra da Mantiqueira, a poder se produzir excelentes cepas de Cabernet Sauvignon. Ademais, não se usam mais leveduras indígenas (selvagens) para fermentar a uva, e sim as importadas, selecionadas, que permitem que se module o desenho do vinho que se quer obter. Porém, a escassa produção de uvas é um dos grandes gargalos para a produção de vinhos finos, o que será superado com uma década de crescimento das plantações paulistas, destacando-se, neste tocante, a cidade de São Miguel Arcanjo, na região de Itapetininga. São Roque desperta de longo sono vinífero. Investimentos no enoturismo são necessários e uma política séria e capaz de turismo será capaz de chamar para o bom vinho de São Roque, milhares e milhares de turistas, provindos da maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo, distantes apenas 59 quilômetros - São Paulo! São Roque tem topografia e um jeitão de Piemonte, é lindinha, e foi a terra de escolha de Mário de Andrade para passar os seus fins de semana. Eu, particularmente, amo São Roque. A cidade vem se empenhando em produzir chocolates (a fábrica da Hersheys está lá), uma miríade de produtos artesanais à base da alcachofra, e várias adegas e excelentes restaurantes à beira da lindíssima Estrada do Vinho. Em janeiro e fevereiro, a atração é a colheita da uva e a tradicional pisa no lagar para a fabricação do vinho, quando o município chega a atrair três mil visitantes em um fim-de-semana. A Quinta do Olivardo oferece o ritual do “Vinho dos Mortos”, tradição portuguesa de enterrar as garrafas de vinho para resgatá-las em fevereiro, memorando o que os portugueses fizeram para defender seus vinhos diante das invasões napoleônicas. Todo este esforço quer reverter o consumo de vinhos no país, que é de apenas 1,8 litro por ano, enquanto no Chile esse número sobre para 14,7 litros, e na Argentina, em média, 31,6 litros por argentino, ao ano. E que ninguém subestime São Paulo. Em uma década, seremos os maiores produtores de vinhos finos, de grande qualidade tecnológica e sensorial, sendo que já somos os maiores consumidores e mercado. São Paulo é São Paulo... *O autor é advogado, médico e dentista. Pré-candidato a vereador em São Paulo, membro do MSPI e da Frente Bandeirante
1 Comentário
EDUARDO GIACHINI
Amigos, prestem atenção nesse quadro. A seguir, falarei um pouco de seus números, TODOS retirados das estatísticas OFICIAIS e MAIS RECENTES (2015) da Receita Federal do Brasil (receita.gov.br) e do Portal da Transparência do governo brasileiro (http://transparencia.gov.br/PortalTransparenciaListaUFs.asp?Exercicio=2015). Até pelo fato de não viver disso (faço-o por mera curiosidade e engajamento na minha mais recente proposição de vida), levei mais tempo do que gostaria para formatá-los, compilá-los e, deles, tirar as minhas, exclusivamente minhas, conclusões abaixo. Primeiramente, porém, abordemos um contexto preliminar. O afastamento da Dilma está consolidado. Antes dele, a hilariante e brasileiríssima decisão do Deputado Waldir Maranhão que, num papel ofício vagabundo, mas devidamente carimbado no melhor estilo do funcionalismo público de Brasília, tentou "impedir o impedimento" da Presidente deste país incurável e acirrou novamente os ânimos entre os quase 80% de brasileiros que não suportam mais o PT (não que queiram o Michel Temer e o PMDB) e os pouco mais de 20% de brasileiros que ainda defendem a maior organização criminosa de toda a história da humanidade. Entretanto, na mesma noite, o Deputado sósia de Tiririca voltou atrás e "impediu o seu próprio impedimento ao impedimento" da então presidente .Portanto, mesmo ratificado o afastamento por ora temporário da Dona Dilma, eu já desisti de querer saber se há ou não crime de responsabilidade, se o rito do STF está sendo seguido ou não, se a Constituição está sendo respeitada ou não e até se, para usar a linguagem dos mortadelas sindicais, há golpe ou não em andamento no país. Minhas dúvidas recentes são bem mais simples: Que leis são válidas neste país? Quem manda nisso aqui? A quem devemos nossa obediência de súditos da "democracia" mais estapafúrdia do planeta? Que sistema de governo prevalece aqui? Presidencialismo? Parlamentarismo? Deputarismo maranhense? O fato é que esse circo todo tem sim uma enorme utilidade: a de nos mostrar que o Brasil, definitivamente, não tem como dar certo. Eis aí uma constatação óbvia, referente a um projeto de nação que já nasceu condenada ao fracasso, foi criada por uma mãe ladra e exploradora, presenciou todo tipo de violência contra os escravos e também contra os nossos natimortos valores morais, separou-se da mãe tardiamente e, por isso, tornou-se viciada nas mesmas drogas e chegou à vida adulta herdando tão somente os frutos do seu passado de podridão, violência e corrupção. Assim, não devemos nos assustar com o nosso presente (tempo atual) político. É apenas um presente (agrado, herança) de grego, ou melhor dizendo, de português. E onde está o lado bom da história? É que este momento pode e deve ser usado impreterivelmente para plantar aqui em SP e, sobretudo, entre nossas crianças e futuras gerações, as mesmas sementes cultivadas há cerca de cem anos pelo valoroso povo catalão, embora só nos últimos quarenta (em função da dura repressão da ditadura de Franco) o movimento por uma Catalunha independente tenha ganhado força verdadeira. Já disse antes e repito: somente unidades administrativas menores e autônomas em relação ao sufocante poder central de Brasília poderão conduzir seus habitantes a um futuro promissor e bem sucedido. Não há um único caso no planeta de nação social e economicamente bem sucedida com características geográficas, demográficas ou com uma "democracia" semelhante à nossa. Vejamos: EUA: dimensões continentais como a nossa, população grande como a nossa, mas com passado de colonização não exploratória, não católica e, sobretudo, desenvolvimentista. Canadá e Austrália: dimensões continentais, mas com populações pequenas e modelos colonizatórios semelhantes ao norte americano. China e Rússia: vitimadas por sangrentas ditaduras comunistas, não podemos sequer ousar considerá-las nações bem sucedidas. Todos os demais casos no planeta de países que se desenvolveram de forma mais sustentável e gerando renda e qualidade de vida para suas populações (estamos falando dos países da Europa Ocidental, Japão e alguns casos do Sudeste Asiático) apresentam características predominantemente diferentes das nossas: são nações territorialmente menores, têm menos de 80 milhões de habitantes (com exceção do Japão) e, sobretudo, não herdaram o culto doentio à figura do Estado, ao assistencialismo estatal e a políticos populistas da pior espécie. Esses são apenas alguns argumentos iniciais (podem e devem ser explorados com mais detalhes) para tentar convencê-los de que, nos últimos dois milênios (para ficarmos apenas na Era Cristã), jamais um país como o Brasil tornou-se uma referência sustentável em distribuição de renda e conforto para seus habitantes. Para a mais simples evidência dessa afirmação, voltemos, então, ao quadro anexo, o qual, de certa forma, explicita o quão injusta é a tal "democracia" brasileira. Comecemos pela análise da arrecadação de impostos e contribuições federais (IRPF, IRPJ, PIS, COFINS, INSS e outros) pelos Estados brasileiros. São nada mais, nada menos, do que R$ 1,2 TRILHÃO gerados pelos explorados brasileiros para sustentar as peripécias da máquina pública de Brasília. Desses, menos de 30%, em média, retornam para os Estados e suas populações. Todo o restante vai para a manutenção de um funcionalismo público federal inchado, incluindo os mais de 100 mil cargos comissionados, para a boa vida de políticos e para as poucas ações de desenvolvimento do país patrocinadas pelo governo federal (uma universidadezinha federal aqui, outra ali, um PAC da vida com menos de 20% de cumprimento e por aí vai). Entretanto, nenhum Estado e nenhum povo é tão explorado quanto São Paulo e os paulistas (os de nascimento como os meus filhos e os de coração, como eu). Nós e nosso Estado entregamos anualmente para Brasília incríveis MEIO TRILHÃO de reais e, numa retribuição que soa como um insulto, recebemos de volta ridículos 8% desse valor. Cada um de nossos 44 milhões de habitantes entrega R$ 11,1 mil para o governo federal e recebe de volta miseráveis R$ 890 a cada ano. O paulista é, disparado, o cidadão brasileiro mais achincalhado pelo governo federal, recebendo 30% a menos do que o segundo lugar nesse ranking macabro, o igualmente explorado cidadão catarinense. E ainda temos que assistir diariamente na TV os governadores dos Estados se humilhando em renegociações intermináveis de dívidas com a União. Ora, diante desses números todos, não seria a União a grande devedora para com os Estados? Antes de continuar, é importante ressaltar aqui minha preocupação com os desdobramentos que esse assunto costuma ter. Não é raro a questão descambar para outras sem qualquer relação com o objetivo da conversa. Não é raro que almas despreparadas e intolerantes com a opinião alheia, habitualmente desprovidas de qualquer argumentação coerente, partirem para acusações de preconceito e discriminação, às quais, convenhamos, devem passar a anos-luz de distância do nosso assunto. A abordagem aqui é meramente econômica e geográfica. Eu, particularmente, gostaria de ver o fim do Brasil atual, a sua divisão em territórios menores e um Estado de São Paulo independente (lembram-se da expressão "engajamento na minha mais recente proposição de vida" do primeiro parágrafo?) formando uma nova nação com negros e brancos, heterossexuais e homossexuais, homens e mulheres, sulistas e nordestinos, pra ficar somente nas estratificações mais comuns usadas entre os socialistas brasileiros (esses sim, adoram nos dividir de todas as formas), mas todos com uma nova pátria comum e com um novo documento de identidade, emitido pela República de São Paulo. Portanto, não há qualquer tipo de exclusão preconceituosa ou discriminatória. Trata-se de uma necessidade econômica fundamental para o bem estar de nossos filhos, netos e seus descendentes, a qual não só deveria ser entendida como DEFENDIDA pelos habitantes dos outros atuais Estados brasileiros, por uma razão simples: vai ser muito melhor para todos! Analisemos agora o caso oposto ao de São Paulo, até para mostrar que nossos modelos tributário e de distribuição de renda atuais não são nada democráticos e, pior, são prejudiciais até mesmo ao povo que, supostamente, mais se beneficia dos repasses federais, o povo do Estado de Roraima (RR). Esse Estado do norte do Brasil gera anualmente pouco mais de R$ 900 milhões de reais para os cofres sem fundos da União e, ao contrário de SP que recebe 12 vezes menos do que arrecada, RR recebe de volta 3 vezes mais. Cada habitante de RR é responsável por gerar R$ 1.819,48 para o governo federal brasileiro, o qual lhe devolve R$ 5.780,04 na forma de repasses para seu Estado, ou seja, 6,5 vezes mais do que um habitante de SP. Há de se supor, então, que com todo esse dinheiro, o roraimense é um privilegiado, com educação, saúde e segurança com padrões nórdicos de qualidade. É aí que, mais uma vez, esta asquerosa pátria brasileira revela-se cruel também com os nossos irmãos do extremo norte do país. Quando analisamos somente a parte do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF), fica fácil perceber que esse modelo de Brasil, ao contrário do que naturalmente se suporia, não chega nem perto de equilibrar as desigualdades entre os habitantes dos chamados estados geradores de impostos (como SP) e os dos recebedores (como RR). Se considerarmos que o IRPF pago pelas pessoas ao insaciável leão da Receita Federal é um indicativo direto das rendas que elas auferem, podemos concluir que um cidadão de RR é, em média, 10 vezes mais pobre que um cidadão de SP. Enquanto o primeiro paga anualmente pouco mais de R$ 200,00 de IRPF ao governo federal, o segundo é responsável por pagar exatos R$ 2.073,15. Nenhum dos dois, porém, chega perto dos R$ 12.173,85 pagos individual e anualmente pelos quase 3 milhões de habitantes do Distrito Federal, que representam apenas 1,5% da população nacional. É claro que o privilegiado nesse caso não é o pobre roraimense, nem o explorado paulista e, muito menos, o morador da periferia de Taguatinga-DF. Quem realmente infla os números do DF são os políticos, os milhares de cargos comissionados e o inchado, caro e ineficiente funcionalismo público federal de Brasília, todos eles com seus altíssimos salários pagos com o dinheiro dos outros cidadãos brasileiros, em especial os de SP. Em média, o cidadão do DF é quase 6 vezes mais rico que um paulista e quase 60 vezes mais endinheirado do que um roraimense. Portanto, se ao menos a exploração dos cidadãos de SP refletisse numa melhora considerável da qualidade de vida das pessoas de RR, teríamos uma razão, ainda que injusta, para se manter um modelo desses, de preferência temporariamente. Mas notem que essa situação não só não é temporária, como não há o menor interesse dos nossos políticos, sobretudo os que orbitam o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, em resolver essa situação. Eu realmente não consigo explicar esse caso, que foge inteiramente da minha compreensão. Talvez o Romero Jucá, senador por RR e novo homem forte do governo Temer, consiga nos explicar o que os políticos de RR fazem com tanto dinheiro repassado pela União e por que, mesmo assim, seus habitantes são tão desfavorecidos. Enquanto Jucá não nos responde, tentemos nós mesmos compreender por que nossa política moderna é dominada, predominantemente, pelos coronéis do Norte e do Nordeste, em detrimento, inclusive, das próprias populações que eles deveriam representar. Um voto no Romero Jucá vale 10 vezes mais do que um voto num representante qualquer de SP. Um voto no Sarney pelo Amapá (AP) vale 6 vezes mais. Já um voto no Collor ou Renan Calheiros em Alagoas (AL) vale o dobro do nosso aqui de SP. Até a relação entre os Tiriricas é injusta. O voto no Tiririca do Maranhão (MA), que assina e "desassina" afastamentos presidenciais de acordo com o que lhe dá na telha, tem 65% mais valor do que o voto no Tiririca de SP, que ao menos nos diverte. Embora SP seja responsável por 40% da arrecadação federal e 22% da população do Brasil, nossa representação no Congresso brasileiro é de menos de 14% e, como já informado, ficamos com apenas 8% dos recursos que entregamos à (des)União Federal. Ou seja, por falta de representatividade jamais os interesses da população de SP serão priorizados e, por falta de conveniência política mesmo, jamais os desejos da população de Roraima serão atendidos. A verdade, portanto, é que o Brasil rouba seus Estados produtores mais desenvolvidos e sufoca o crescimento de seus Estados menos desenvolvidos, conseguindo a façanha de um modelo que é ruim para todos. Como o dinheiro que sai de SP obrigatoriamente tem que passar pelas mãos dos Jucás, Renans, Collors e Sarneys, ele também não chega como deveria chegar nas populações dos demais Estados. Para quem acredita em Papai Noel, no coelho da Páscoa ou num Lula inocente, é natural também acreditar que, um dia, através pura e simplesmente do voto (obrigatório e depositado num computador que ninguém sabe quem acessa e controla), o futuro desta eterna nação do futuro vai chegar. Mas não vai. Resta-nos, então, desejar e apoiar o nascimento de novas nações, independentes desta nossa atual. Imaginem a oportunidade de construirmos novos países, com novas Constituições, sem reeleição, sem foro privilegiado, sem mordomias, com valorização real de professores e policiais desde a primeira Carta Magna e, principalmente, com oportunidades verdadeiras de crescimento sustentável de acordo com as características econômicas e vocações de cada lugar. Fica o convite para que cada brasileiro comece a apoiar políticos separatistas (há movimentos tímidos no Brasil todo, do Norte ao Sul, precisando apenas de mais apoio, mais adeptos e menos preconceito) em seus municípios e Estados que, quem sabe, conseguirão mudar um dia nossa Constituição atual, o primeiro passo para que nossos filhos tenham um novo e grande país em vez de apenas um insignificante país grande, motivo de chacota no mundo todo. O Brasil não tem como dar certo! São Paulo, sim! Os outros Estados também (desde que se livrem de Brasília e se agrupem em territórios menores). Quero pertencer a uma nação que orgulhe seus filhos não pelo seu carnaval ou pelo seu futebol (se bem que nem isso nos orgulha mais). O Brasil é um modelo ideal apenas para quem acha bonitinha uma Marquês do Sapucaí repleta de alegorias estranhas e coloridas ou para quem acha o máximo sediar grandes eventos esportivos, o que, não sei se perceberam, as nações verdadeiramente ricas andam recusando cada vez mais, sobrando como opções à FIFA e ao COI (Comitê Olímpico Internacional) apenas paraísos de corrupção, como África do Sul, Brasil e Rússia. E por falar em futebol, já tenho até time no meu novo país: São José, a Águia do Vale do Paraíba! ![]() CARLOS ALBERTO RODRIGUES JÚNIOR Não é difícil encontrarmos quem prega a ideia de que os Bandeirantes, heroicos ancestrais do povo paulista, foram pessoas sanguinárias que dedicaram suas vidas ao extermínio de povos indígenas. Atualmente, com a ascensão da esquerda ao poder, uma forte doutrinação ideológica tem intensificado esta falsa imagem de nossos antepassados, causando inclusive ataques e vandalismo a monumentos dedicados à memória dos primeiros paulistas. Mas os Bandeirantes realmente foram assassinos sanguinários? A história de São Paulo e da América portuguesa merece ser revisada? Primeiramente, devemos compreender o conceito de sociedade na época. A civilização ocidental acabava de sair da Idade Média, e havia uma grande necessidade por recursos e riquezas. Esta necessidade sempre fez parte daquilo que move o ser humano, seja lá qual for sua origem ou condição. E após séculos de estagnação econômica e social, o descobrimento de novas terras do outro lado do oceano fizeram com que milhares de europeus migrassem em busca de riquezas. No entanto, as novas terras já eram habitadas por povos de hábitos primitivos. Por conta disso, foi uma mera questão de tempo que o contato entre duas culturas diferentes gerasse atritos. Devemos lembrar que as definições de moral e ética na época eram bastante diferentes dos nossos atuais conceitos. Se hoje coisas como conquista por meio da força, domínio cultural e escravidão nos parecem ideias abomináveis, no período colonial estes conceitos eram vistos de forma muito distinta, até com certa naturalidade. A história da humanidade se moldou em guerras, impérios dominando nações, violência extrema e escravidão. De certa forma, ainda hoje o curso da história é forjado desta forma. Por serem tecnologicamente mais evoluídos, não demorou para que os europeus subjugassem os povos nativos. Do ponto de vista ético e moral, toda a violência empregada na conquista da América pelos europeus jamais poderá ser justificada. Mas eram as regras da época. Foram necessários alguns séculos para que os conceitos éticos e morais se moldassem naquilo que entendemos como “ideal e justo”. E se por um lado as ações violentas e invasivas praticadas pelos europeus jamais poderão ser justificadas, a moral e a ética praticada pelos povos primitivos não eram muito diferentes. É totalmente falsa a ideia do índio pacifista, que vivia em harmonia plena com seus semelhantes e com a natureza. Na verdade, enxergar os povos como este ser caricato e limitado é negar sua própria humanidade. Os nativos americanos até podiam estar alguns degraus abaixo dos europeus ao que se refere à tecnologia, mas eram tão humanos quanto. E isso implica que estes povos possuíam as mesmas virtudes e os mesmos vícios que os habitantes do velho mundo. Muito antes da chegada do primeiro europeu em terras americanas, os habitantes nativos já viviam em sociedades com relativo grau de complexidade, com culturas e territórios bem definidos, onde tribos se tornavam rivais de outras, e frequentemente travavam guerras violentas. A figura do “guerreiro” sempre gozou de grande status na sociedade indígena. Enxergar o nativo americano como um ser incapaz, desqualificado e indefeso é a forma mais cruel de preconceito a estes povos. O povo paulista, culturalmente e etnicamente, é o resultado da fusão dos elementos europeus, indígenas e africanos. Esta fusão é evidente até hoje em nosso dialeto, em nossa culinária e até mesmo em nossa genética. Pode-se afirmar que muito mais que domínio, houve na verdade uma integração cultural. Esta é base do povo paulista. Até mesmo os imigrantes europeus que aqui foram chegando a partir das últimas décadas do século XIX absorveram muitos elementos desta mistura cultural. Jamais poderemos negar a extrema violência ocorrida no período colonial. No entanto, muito mais que conquistas de terras e riquezas, este período forjou a essência daquilo que somos: Paulistas. *O autor é colaborador do MSPI |
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Julho 2019
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