![]() JÚLIO BUENO Hoje os principais nomes citados para a presidência da República são: Lula, Bolsonaro, Alckmin, Dória, Ciro Gomes e Marina Silva. Eis o que poderá vir a acontecer caso ocorra a vitória de algum desses nomes (o que, com 99% de chances de se cumprir, pois o nome de um outro postulante, como Álvaro Dias, Ronaldo Caiado, Joaquim Barbosa, Luciana Genro seria algo realmente imprevisto, baseando-se nos levantamentos dos institutos de pesquisa e também das informações políticas que temos acesso até o presente momento). As ações da Justiça tem feito um bem muito grande ao país, ao trazer a necessária desconfiança sobre a classe política, mostrando que nessa terra não existe ideologia que consiga ser mais forte do que a incontrolável vontade de roubar o erário público. Contudo, por outro lado, muitos ainda não se sensibilizaram para essa realidade e se apegam em fiapos de esperança, crendo que o Ministério Público, a Polícia Federal ou a "República de Curitiba" irão conseguir colocar um rumo no Brasil. Estão enganados. As pesquisas que tem sido veiculadas mostram que no presente momento, após anos de verdadeira malhação pública por parte de setores importantes da imprensa e da opinião pública, a figura de Lula continua sendo a mais forte em várias regiões do país (sobretudo o Nordeste) e entre as classes sociais mais baixas. Em uma eleição, sabemos que as taxas de rejeição de um candidato são fatores decisivos, mas em um cenário onde praticamente todos tem altíssimos índices de rejeição alguém acabará tendo que ser eleito. Hoje, seria Lula. Bolsonaro é uma figura que assim como Lula tem despertado muitas paixões, sobretudo entre os mais jovens. É incrível o número de alunos meus, na faixa dos 15 anos que são simpáticos ao ex-capitão do Exército. Sua força eleitoral se concentra num eleitorado radicalmente anti-petista, de pessoas que não tendem a mudar mais o seu voto. Eu desconfio da capacidade que Bolsonaro tem para atrair novos eleitores. Desconfio também da capacidade dele em ser ... político. Sim! Bolsonaro é deputado, mas não é político. Não negocia nos moldes tradicionais da política nacional. É assim que até agora tem preservado intacta a sua imagem de incorruptível. Se for para um segundo turno com Lula, fatalmente perderá, por que, justamente não atrai o voto medroso, o voto do moderado. Geraldo Alckmin hoje seria o candidato do PSDB. As denúncias que foram depositadas sobre si não foram capazes de, politicamente, tirá-lo do páreo. É o último cacique tucano que já disputou a presidência que restou com potencial eleitoral (José Serra está velho, doente e com a imagem muito desgastada e sobre Aécio Neves não há mais o que dizer: é um zumbi eleitoral). Sua candidatura representaria a saída política do acordão das elites. É a velha política. A imprensa do Brasil, sobretudo de alguns estados começará a falar que é o retorno da Primeira República e da hegemonia de São Paulo sobre o Governo Federal. A imagem de Alckmin é queimada, para muitos, mas também um símbolo de firmeza em tempos de tormenta. Contra Lula perderia e ainda correria o risco de ficar fora do segundo turno, dando sua vaga para Bolsonaro. Coloco João Dória como o maior fenômeno eleitoral presente. Teve uma vitória retumbante para a prefeitura da maior cidade do Brasil, aliando a política tradicional de bastidores (realizada por seu padrinho ~ e atual concorrente a pré-candidato à presidência ~ Geraldo Alckmin, que negociou secretarias e cargos em troca de apoio de partidos, para agregar tempo de TV) com o discurso de que não é político e não representa a velha classe política, mas um gestor, algo que, até agora, está colando para a população, feliz, após 4 anos de total abandono da gestão Haddad e que agora se regojiza em ver um alcaide que parece ser onipresente. Ações como a realizada na Cracolândia não parecem abalar a imagem de Dória e ele tem levado sua figura, agora de gestor público, para Brasília e o Rio de Janeiro. É uma já nada discreta pré-candidatura. Dória, para mim, é o único com força para conseguir vencer Lula. Conseguiria unir parte do eleitorado radical e cansado, de Bolsonaro, com o eleitorado conservador e centrista, tipicamente tucano. É a única saída efetiva para o PSDB. Caso Lula não venha se candidatar (ou não possa, por prisão, doença ou morte) as esquerdas devem concentrar suas forças em torno do neo-coronel Ciro Gomes. O discurso de Ciro é alucinante! Ele consegue elogiar Donald Trump e meter o pau em Lula e Dilma e ainda assim ser amado pela esquerda. Tem, ainda, a reputação de homem público portador de alguma honestidade. Sem Lula na disputa, em um cenário contra Alckmin, ele se torna um nome com muita força eleitoral, pois conseguiria atrair votos de todos os demais candidatos. Ciro Gomes odeia São Paulo (ele foi parido em Pindamonhangaba, mas nem os ares de nossa terra ele chegou a respirar - é um acidente geográfico natalício) e nos anos 1990 foi perseguidor de separatistas na imprensa. É um tumor da política nacional que de tempos em tempos aparece. É uma doença antiga que ninguém consegue fazer desaparecer de vez. Marina Silva, por sua vez, no meu entender pode dar as mãos para Bolsonaro no partido dos políticos ruins de fazer política. A também eterna candidata sempre sai com uma boa força para a disputa, mas sua maneira de levar a campanha, seu tom vacilante, seu ar de tucano-petista ou petista-tucano não consegue empolgar e parte de seus possíveis eleitores, que na hora da decisão acaba fazendo o voto-útil ou no PSDB ou no PT, a depender de qual for o seu pendor social-democrata. Ela pode crescer, mas duvido que consiga ir para o segundo turno. Se conseguir repetir o terceiro lugar deve dar-se por satisfeita. Como fica o Brasil,pós 2018? Se Lula vencer os caminhos do país continuarão os mesmos. O populismo de esquerda sairá fortalecido e o PT deverá colocar mais em uso uma estratégia de tipo bolivariano, dando forças ao MST, MTST, Frente Brasil Popular, CUT e UNE. Lula terá de se fiar nos seus, por que sabe que, se eleito, enfrentará uma oposição cada vez mais forte, tanto quanto Dilma enfrentou, desde sua vitória em 2014. Pedidos de impeachment serão protocolados desde os primeiros dias do ano legislativo. A operação Lava Jato será institucionalmente perseguida e a Polícia Federal terá um delegado geral que será totalmente fiel ao PT, além de um ministro da justiça que faça o serviço xerife mor do petismo. Para o separatismo, a vitória de Lula fará com que uma desilusão ainda maior ocorra em São Paulo, que votará em peso contra ele. Sem falar no fato dos três principais nomes da oposição possíveis, Alckmin, Dória e Bolsonaro serem Paulistas. Seria uma excelente oportunidade para fazer a causa Paulista crescer mais ainda, surfando na onda de indignação criada, tal como em 2014. Caso Bolsonaro vença o país ficará também em situação de impasse. A justiça continuará sua caça aos corruptos, como tem tentado fazer, mas os setores dominados ideologicamente pelas esquerdas, dentro das instituições, irão boicotar sistematicamente o novo governo. Bolsonaro ainda dependeria de acordos com o poder legislativo, visto que hoje, pouco mais de um ano para a eleição, ele sequer tem uma legenda definitiva por onde disputar o pleito. Ah, e no caso da vitória do ex-militar, as esquerdas se mobilizariam totalmente, com invasões, destruição de patrimônio público, ruas bloqueadas, ônibus incendiados, fazendas invadidas, universidades públicas em greve. Um caos que teria que ser resolvido com muita violência e nós sabemos que Bolsonaro não hesitaria em dispor de força máxima contra toda a espécie de baderneiros esquerdistas. Para o separatismo, a vitória de Bolsonaro pode ser tanto positiva quanto ruim. Positiva por que o caos ainda permanecerá rondando as instituições e o país como um todo, mostrando a inviabilidade de qualquer mudança política, que não a secessão. Ruim, por que Jair é um nacionalista com a cabeça típica de quem foi formado no espírito da Doutrina de Segurança Nacional, da época dos governos militares, radicalmente avesso a qualquer tentativa de fragmentação do território brasileiro. Ele se cercaria de assessores da dita nova direita, também, em grande parte avessa ao separatismo e extremamente impressionável e susceptível. A vitória de Dória poderia ser um analgésico para muitos. Ele traria alguma estabilidade passageira na economia. Entregaria o Ministério da Fazenda a Armínio Fraga e sua equipe da Gávea. O mercado rapidamente voltaria a colocar confiança no Brasil. A The Economist irá colocar em sua capa a cara de Dória, dizendo ser ele o Macron brasileiro. Sua vitória doparia muitos separatistas, que mais parecem ser antipetistas do que verdadeiros nacionalistas Paulistas. Caso Alckmin venha a vencer, seria a vitória do establishment, de velhos tucanos e de fisiologistas do PP, PR, PMDB, PSD e tantos outros. Se conseguir dominar a Polícia Federal e o MP, será tão analgésico quanto Dória. Penso que o cenário seria parecido diante de hipotética vitória de Marina Silva. Todas essas perspectivas estão sendo feitas com base nas informações que temos públicas até a presente data e a visão que permeia o texto é de alguém que não está nem um pouco preocupado com Brasil, mas em fazer de São Paulo um país soberano e independente. Como sempre digo, eleições são momentos de rupturas históricas controladas e é em momentos de ruptura em que nós, separatistas, ganhamos forças. O marasmo político não é nosso auxiliar. Sabemos que esse país é inviável, por que conhecemos a sua história, mas o povo não liga para o passado, pois sua cabeça se coloca sempre em um presente contínuo sem fim. Se o caos brasiliense se acalma, nós perdemos forças. Como já fiz minha aposta, a reitero: Lula será eleito presidente ano que vem. Que estejamos preparados para isso.
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![]() JÚLIO BUENO O que eu já havia falado tempos atrás parece que está se concretizando aos poucos. No momento em que Joesley Batista divulgou os áudios em que grampeava conversas reveladoras que teve com o presidente Michel Temer, muitos afoitos pensaram que era, mais uma vez, o momento de ruptura, de quebra das instituições, da ir as ruas, fazer de tudo para tirar o presidente de seu cargo. As gravações não se mostraram fortes o suficiente para derrubar Temer, ao contrário, foi a paulada mais dura que ele recebeu e parece que se saiu fortalecido dessa pancada. É como diz o ditado: o que não mata fortalece. Ministros caem. Deputados ensaiam rebeliões. A oposição de esquerda e a turma dos isentões da política nacional atacam e atacam Michel Temer, sem fazer com que ele caia. A Globo faz campanha contra o presidente, mas ele se mantém forte. E por que está tão forte ainda no cargo? Por que Temer é uma velha raposa da política, que sabe sentir o termômetro dos sentimentos de seus pares de ladroagem e sabe, como conhecedor da história desse país, que as elites dirigentes podem mudar de lugar, mas as coisas sempre acabam como estavam antes de começar. O acordão das elites é a prática mais comum da história política do Brasil e ainda se mantém como algo recorrente. A Lava Jato, esperança de muitos, não conseguirá consertar o país. Sérgio Moro pode buscar ser o cavaleiro solitário que caça todos os ladrões e salteadores destas plagas, mas há bandidos por toda a parte, prontos para anular suas sentenças. Em 2018, com um cenário econômico ainda devastador e com inúmeras denúncias de corrupção caindo sobre petistas e não petistas, os famélicos dos grotões da velha Banânia e também aqueles nem tão famélicos, mas saudosos de uma década atrás, irão eleger Lula da Silva como presidente mais uma vez. E São Paulo irá, de novo, ter um presidente que não elegeu. É uma sina que parece nos perseguir. Ou nos separamos deste país ou nos afundaremos com ele. ![]() A política é uma arte, que coloca frente a frente grandes negociadores, pessoas de excelente espírito moral, capazes de pensar além do hoje, aqui e agora. Assim é, pelo menos, a política ideal, a política com perfil aristocrático (não oligárquico) que imaginamos que com a independência de São Paulo poderíamos ter na nossa terra. Esse assunto é algo que sempre causa uma reação negativa no cidadão comum. Quem está na política é ladrão e quem quer entrar nela deseja também se tornar um assaltante dos bens públicos. O Brasil não se mostra capaz de reverter essa situação de completo descrédito da população com relação aos seus dirigentes políticos. Aliás, algo bastante natural em se tratando desse país. A incapacidade de se manter um ambiente político saudável é um sintoma de que, do ponto de vista administrativo e também moral esse país é ingovernável e somente a sua divisão em várias unidades menores, independentes entre si vai poder dar uma perspectiva menos horrenda aos seus habitantes. Do ponto de vista administrativo não é possível se manter uma forma de estado como é o adotado hoje pelo país. O modelo de federalismo brasileiro não é próprio para um estado que têm as características que o Brasil possui: heterogeneidade étnica e cultural gigante e uma completa ausência de solidariedade nacional autêntica. Me parece que o Brasil é um país predestinado a não dar certo. Todo o tipo de mudança política que já foi pensada e tentada não deu certo. Não será a mudança, mais uma vez, em sua variante de forma de estado que fará com que ele se aprume no caminho da justiça e da civilização. O modelo de federalismo que temos hoje no país vem, com mudanças não tão substanciais, se mantendo desde o golpe de 1930 liderado, oportunisticamente, pelo caudilho Getúlio Vargas. Quatro anos após tomar o poder e após ter produzido a Revolução de 1932, Vargas se viu na obrigação de ceder, temporariamente, seus desejos já aflorados de centralização e tirania, em nome de uma pacificação, capaz de agradar as elites Paulistas, que ao compactuarem com o ditador gaúcho somaram traição e ignorância. Primeiro por que Vargas não tinha legitimidade para governar parte alguma. Tomou o poder com o auxílio dos Tenentes e de frações da elite, de tendência liberal, cooptando-os e transformando-os em seus satélites. Ao disputar o pleito de 1930, e ser derrotado por Júlio Prestes não havia outro nome que devesse assumir a presidência que não o ilustre filho de Itapetininga. Tudo o que fugisse disso se configuraria num simples golpe, típico das "repúblicas de bananas" da América Central. Em 1932, os Paulistas ao defenderem o cumprimento da lei e da Carta Constitucional de 1891 defendiam a sua autonomia e um modelo de desenvolvimento civilizacional para o Brasil. O sangue e o suor de nossos avós bandeirantes foi derramado para que São Paulo fosse mais do que autônomo, constituindo-se em corpo nacional soberano. Nossas elites se acertaram com o ditador após o término do levante. Traíram os mortos. Nosso povo, mesmo militarmente derrotado, foi moralmente vitorioso, dizem quase todos aqueles que tentam explicar o levante cívico anti-varguista. A Revolução de 1932 era constitucionalista por que queria voltar aos termos constitucionais de 1891, o que era o equivalente a trazer as garantias legais da soberania Paulista, alvo particular da ganância ditatorial. Se a Constituição que pedíamos não voltou, então nada conquistamos, pois os textos de 1934 não segue os mesmos pressupostos autonomistas que estavam previstos desde 1891. Segundo, parte das elites de São Paulo na época simplesmente não souberam entender as reais intenções do ditador, que nunca quis outra coisa além de ser um tirano megalomaníaco que via em São Paulo uma espécie de Cartago a ser destruída e salgada. Pensaram estes que poderiam se acertar com o caudilho. Ele enganou a estes incautos. Em 1934 ao fazer a segunda Constituição do período republicano, Vargas destrói definitivamente todo e qualquer vestígio de soberania que ainda os Paulistas poderiam pensar em reaver por meios políticos e legais para aquele momento. Com a nova carta magna brasileira há uma alteração do tipo de federalismo adotado no país, que do modelo americano, liberal, passou a ser mais próximo do federalismo redistributivo, onde há um estado centralizado forte que tem por objetivo, em teoria, desconcentrar riquezas de alguns estados repartindo-as com outros, buscando alguma espécie de justiça social entre estados. Evidentemente tal modelo não faz justiça alguma, pois sabemos que os recursos subtraídos de São Paulo (e em muito menor parte dos demais estados superavitários) não são empregados para auxiliar no desenvolvimento das unidades da federação menos aquinhoadas, parando sempre na burocracia e nas mãos dos senhores do poder, donos do patrimonial estado brasileiro. Quando as pessoas dizem que Brasil que defendem o federalismo (ou federalismo pleno – tipo desconhecido pela ciência política e pela teoria geral do estado) elas na verdade fazem alusão a um modelo de federalismo que existiu nos Estados Unidos até, aproximadamente, até a época da Grande Depressão (1929). No Brasil, a partir da proclamação da república, 1889, que derrubou Pedro II e sua monarquia decadente e sem bases no continente americano, foi adotado um federalismo liberal (americano) de tipo desagregador, onde a união concentra muito mais poderes. Nos Estados Unidos o federalismo foi agregador. No período imperial (1822-1889) as províncias que formavam o Brasil não eram dotadas de grande relevância administrativa, tendo, inclusive, os municípios muita força (como é uma tradição herdada de Portugal – lá os concelhos e freguesias). Nos Estados Unidos, quando houve a Guerra de Independência com a Inglaterra, as colônias se separaram sozinhas e depois se agregaram, numa confederação e na sequência numa federação. As duas realidades históricas são demasiadamente distintas e aqueles que pensam e falam em adotar um “federalismo pleno” no Brasil também ignoram totalmente essas distinções que fazem toda a diferença e mostram por que não há mais soluções sensatas para se acreditar que mesmo já tendo se tentado todo o tipo de mudança política esse país não mudou em sua essência e corrigiu seus males em direção à retidão social. Também nós não podemos gastar demasiada energia com problemas que hoje não nos são mais urgentes e palpitantes, como debates supostamente de substância ideológica, entre temas polêmicos que são colocados pela mídia como se fossem pautas concretas da sociedade e que, no fim das contas, são maneiras que aqueles que controlam o Brasil tem de impôr as suas agendas à população, de forma sutil. É preciso entender também quais são as balizas politicas de nosso século e entender a questão da existência do estado nacional Paulista, soberano, como um corpo nacional perene, histórico que passará não só este como os séculos vindouros também, logo, que presenciará muitas mudanças políticas, sociais, culturais mas sem que estas deformem nem sufoquem o verdadeiro espírito nacional do Paulista. Nesta linhagem entendemos que, nós, secessionistas, temos como alvo número um de nossa militância política apenas a secessão. A Causa Paulista não é da esquerda ou da direita. Ela é dos Paulistas, de ontem, de hoje e de amanhã. Ela já era a causa do nosso povo no século XVII quando não existia essa terminologia, permanece sendo o nosso mote maior para mobilização e luta e a sua realização é algo que permanecerá premente até que venha a se concretizar definitivamente com a coroação de São Paulo como país soberano. Desta forma, nada impede que uma pessoa que se diga de esquerda venha a defender a secessão de São Paulo. É verdade, contudo, que nós temos encontrado pouquíssimos secessionistas que se declarem esquerdistas. E é verdade também que os valores tradicionais da pátria bandeirante não são valores que hoje pessoas da dita esquerda política costumem venerar: livre iniciativa, empreendedorismo econômico e social, responsabilidade individual, autonomia e auto-governo, respeito à propriedade privada, liberdades civis, defesa individual e governo limitado, além de um espírito nacionalista. Esses valores que aqui citamos não são valores ou princípios ideológicos, logo, defendidos de forma declarada por um grupo ou outro de pessoas unidas por simples afinidade de ideias em matéria de política, mas são valores típicos de um povo e esse povo, o Paulista, mantém até hoje, mesmo sobre constantes e incontroláveis investidas. *O autor é professor de História e secretário-geral do MSPI ![]() JÚLIO BUENO O caminho de qualquer agrupamento político de sucesso ao longo da história não é simples e quando, equivocadamente, alguns indivíduos pensam que as guerras ou revoluções, ou mais tecnicamente conceituando, as rupturas históricas, se dão de maneira espontânea e rápida, como de uma hora para outra, eles não poderiam estar mais errados. Por mais que na superfície uma mudança aparente tenha ocorrido sem maiores motivos aparentes ou razões profundas, estas, sem sombra de dúvida, somente puderam ocorrer por meio de uma série de transformações, lentas construções sociais, mudanças, sedimentações psicológicas por meio da cultura, que possibilitaram que, num dado momento, após a acumulação de certas bases, tal mudança histórica de relevância se torne incontingente e venha, portanto, a se realizar. Feita esta fundamentação passemos então ao caso concreto que nos importa aqui que é a secessão de São Paulo. Ao fazer um exame breve e panorâmico da História de São Paulo, desde o século XVI, nós encontramos a presença de uma série de pressupostos que nos levam a concluir que a predestinação de São Paulo é a independência. Desde quando o europeu aqui chegou e começou a construir uma nova civilização, uma civilização diferente de tudo aquilo que até então se conhecia, marcadamente euroamericana e Ocidental, São Paulo vem demonstrando que não tem outro caminho a percorrer e por mais que se perca no meio de pedregais e sendas tortuosas, sempre os Paulistas encontram o caminho da autodeterminação, que segue direção oposta da do Brasil, que marcha pelo caminho da servidão. Já no século XVI em São Paulo se realizavam eleições, com mandatos relativamente claros e definidos, com uma organização que pouco se conheceu no continente americano, sempre marcado pelo domínio inconteste de elites predatórias e mesquinhas, além do típico caudilhismo e seus pronunciamentos, até as primeiras décadas do século XX. Aqui também se encontrou, como em nenhuma outra parte da colônia portuguesa na América, a pequena e média propriedade rural durante o período colonial e a importância disso reside justamente no fato de que a capilaridade de propriedade existente entre os Paulista os tornou mais iguais. São Paulo conseguiu a incrível proeza de unir as glórias das conquistas territoriais e culturais tipicamente aristocráticas com as vantagens dos princípios de liberdade e igualdade (faço aqui uma ressalva: não se deve entender a “democracia à Paulista” dos primeiros séculos de nossa história com os países democráticos contemporâneos; os sentidos aqui estão indo de encontro por verossimilhança). De igual forma em outros momentos de nossa história tão rica podemos contemplar a capacidade inata do Paulista de exercer a busca por sua autodeterminação. Do episódio denominado de “A Aclamação de Amador Bueno” até a Guerra dos Emboabas, já no início do século XVIII é que encontramos a consolidação da identidade Paulista. A formação do “Nós, Paulistas” em contraposição ao Emboaba, o “cão traidor” sempre reconhecido nas figuras dos não-Paulistas e a presença de um sentimento comum, unívoco, que mostra a existência concreta e palpável de uma comunidade já consolidada, com uma conjunção clara de interesses e um desejo de ser reconhecido como povo, nação e mesmo país. Por muito pouco São Paulo não foi o primeiro país de toda a América em 1641. Esse espírito e esse desejo de autodeterminação em São Paulo hoje, mesmo que pareça inexistente, ainda persiste, mesmo que tenha que enfrentar inimigos mais astutos e mais obstinados do que a Coroa Portuguesa, os índios bravios ou os jesuítas dos séculos XVII e XVIII. E, diante dessa constatação e dessa crença de que o Paulista ainda é possuidor destes predicados e dessa vontade, que é geral, em se declarar, em se autodeterminar, é factível, de forma absoluta, que São Paulo em breve venha mais uma vez surpreender os passivos brasileiros com a sua altivez. O que os movimentos separatistas modernos fazem é servir como agente catalisador dessa predisposição Paulista para a independência. Em 1932, durante a Revolução Paulista que, embora não fosse separatista era franca e abertamente autonomista (a constituição era o instrumento próprio e adequado para fazer com que São Paulo reavesse sua autonomia, roubada dois anos antes por Getúlio Vargas com seu golpe de estado) uma boa parte da intelectualidade era secessionista. Durante a guerra figuras como Mário de Andrade ajudaram a redigir o jornal “O Separatista” que era distribuído para as tropas no meio das frentes de combate. Encerrado o conflito militar, ainda outros ilustres intérpretes de nossa terra permaneceram sustentando a opinião de que somente a secessão importava aos Paulistas. Alfredo Ellis Júnior, professor fundador da cátedra de História da USP, deputado Paulista de sangue quatrocentão, junto com René Thiollier, mecenas, grande incentivador cultural inclusive na Semana de Arte Moderna de 1922, fundaram a Liga Confederacionista, que pregava a confederação que daria soberania aos estados, como uma forma de subverter as vistas do leviatã getulista que permanecia inamovível em sua perseguição aos Paulistas e a seu desejo de emancipação. Monteiro Lobato foi separatista aberto e declarado. Indícios fortes também apontam que Guilherme de Almeida, o “Príncipe dos Poetas” e o empresário Cásper Líbero de “A Gazeta” também fossem entusiastas da ideia da secessão. Outro separatista, Paulo Prado (confuso, controvertido, bipolar, mas separatista) que escreveu dois importantes ensaios Retrato do Brasil e Paulística, onde analisa, com aquilo que aprendeu de seu mestre intelectual no campo da história, Capistrano de Abreu, a situação do Brasil e chega a clara conclusão de que este é um país sem futuro, como é uma criança de corpo mal formado, sempre tendente, por isso mesmo, a manifestar toda a espécie de doenças que lhe causarão dor e pesar por toda a sua existência. Em 1932 a mentalidade era outra e a cultura também. Embora esteja mantida na psicologia do Paulista a vocação e a predestinação para a autodeterminação, esta hoje está separada na maior parte do tempo de sua companheira, a cultura. A nossa cultura foi criteriosamente atacada por nossos inimigos como não aconteceu com nenhum outro povo no Brasil. Poucos paralelos podem ser traçados com aquilo que o governo federal fez com a cultura e as tradições Paulista. Qualifico o que foi feito aqui com aquilo que os países vencedores realizaram nas duas Alemanhas depois da Segunda Guerra Mundial: uma desnazificação. O Brasil realizou com São Paulo algo semelhante em método e em intensidade: despaulistou o Paulista. Nossa cultura, aquilo que serve de manto a cobrir a todos os indivíduos perante o frio da noite da individualidade e da solidão existencial nos foi tirado. O Paulista foi desgarrado dos seus, tornando-o preza fácil para os lobos devoradores do governo federal. Mesmo diante disso e sozinho o Paulista consegue se sustentar frente a tantas investidas. O caminho de nossa autodeterminação, da secessão e da soberania Paulista não é curto e não é fácil. É como uma estrada com várias pistas ainda a pavimentar. Nossa missão é pavimentar essa estrada ao mesmo tempo que vamos trilhando-a para poder chegar a realizar esse duplo propósito de criar as condições para que os Paulistas sejam agentes de sua própria emancipação e para que nós que constituimos a vanguarda revolucionária de nossa causa consigamos também chegar ao ponto final de nossa caminhada com a certeza de que não nos desviamos do caminho e nem concessões fizemos aos nossos inimigos. O caminho da secessão é a única resposta contra o caminho da servidão. *O autor é professor de História e Secretário-Geral do MSPI |
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