FELIPE NOGUEIRA DE SOUSA “- Vós, meu senhor, o que carecíeis de ver era a bruteza deles. As barbaridades! A escravização do gentio! É inútil negar, senhor: os paulistas são uns monstros... O homem de barbas negras tornou com gravidade: - Monstros? Não, senhor jesuíta. Não! Os paulistas não são monstros; são como nós. A ambição, vós bem o sabeis, é o que empurra esses homens para o sertão. Caçar bugres, eis o chuço que os espiaça. Mas eles o fazem com sangue, dizeis vós. Que importa? Não haveisde pedir aos sertanistas, gente grosseira, quevão prear índios com torrão de açúcar! O certo, porém, é isto: conscientes ou inconscientes, são os paulistas que desbravam a terra. São eles que constroem o Brasil. Vede que país fabuloso, padre, criou, na América, a coragem desses brutos! ” O trecho acima é retirado do romance histórico “A Bandeira de Fernão Dias” de Paulo Setúbal, publicado em 1928. O diálogo é entre um padre jesuíta e um português que vinha ao Brasil para participar da bandeira do famoso Fernão Dias Paes Leme. O trecho é claramente uma apologia do autor ao papel dos bandeirantes na formação do Brasil, figuras que tiveram papel importantíssimo em nossa história, porém ainda são motivo de muitas polêmicas e são muitas vezes atacadas por nossos contemporâneos. De um lado, a figura heróica do desbravador de terras e construtor de civilização, do outro lado um conquistador genocida que escravizava índios. Seja como um ou outro, devemos ver os bandeirantes como o que eles realmente eram: como homens de seu tempo. Há uma grande tendência entre nossos contemporâneos de negar nossas raízes, principalmente as de origem europeias, pois elas tiveram um papel muito negativo na história, sendo exploradores, escravizadores e genocidas. Por outro lado, engrandecem os povos oprimidos e criam visões distorcidas acerca dos mesmos, como se tivéssemos que negar toda a nossa herança europeia e lusitana em nome de uma cultura que ficou restrita à minorias e tivéssemos que até mesmo sentir vergonha dela. Não somos europeus, porém também não somos indígenas, tampouco africanos, somos uma cultura mais especial, nascida da síntese dediferentes culturas, mas em que prevaleceu fortemente o elemento europeu português. Não devemos negar nossas raízes e nem mesmo aceitar as difamações sobre nossos ancestrais, não devemos nos envergonhar do que realmente somos. Sabemos que nossa história foi construída com sangue e sacrifícios, mas qual grande povo não se construiu sobre sangue e sacrifícios? Não podemos lançar olhares modernos sobre os bandeirantes e nem mesmo sobre os indígenas. A época demandava homens firmes, brutos e capazes de empreender asmais difíceis missões que lhes eram dadas. Os bandeirantes, filhos de uma raça conquistadora e belicosa portuguesa, não empreenderiam sua missão nas tribos pregando sobre ideias modernas de direitos humanos, direitos de minorias, igualitarismo ou luta de classes, porque tais coisassimplesmente não existiam na sua época. A sua missão demandava sacrifício e luta.
Assim como os índios também eram homens de seu tempo e tiveram aárdua missão de defender suas tribos. Mas sendo os indígenas também homens de seu tempo, muitos de seus costumes seriam vistos pelos mesmos críticos dos bandeirantes como coisas retrógradas, selvagens, machistas ou até mesmo racistas. Vale lembrar também que os índios também viviam em guerras com outras tribos e que muitos deles se aliaram aos portugueses. Os portugueses não construíram sozinhos esse país. “[...] maior do que à primeira vista pode parecer, foi o influxo da raça americana na formação das primeiras camadas de moradores do planalto paulista, essa gente bandeirante que nos propusemos estudar sob vários pontos de vista. Bem razão tinham os cronistas castelhanos de chamar aos moradores de São Paulo de "mamelucos, gente bellicosa y atrevida", porque raro era, no segundo século, o sertanista que não tivesse entre os seus próximos ascendentes um genuíno representante da raça de bronze. Ainda que as grandes cabeças arquitetadoras dos empreendimentos, tais como Raposo Tavares, Manuel Preto, Fernão Dias e outros, tivessem sido de exclusivo sangue europeu, os bandeirantes eram todos mestiços mamelucos, quando não eram de pura raça indígena.” (Alfredo Ellis Jr. – Os Primeiros Troncos Paulistas) O resgate a cultura indígena tem a sua importância, devemos entender nossas raízes, mas por outro lado, não devemos negar que na luta entre esses dois povos, o elemento que prevaleceu foi o europeu e lusitano,negar e denegrir tal elemento seria negar e denegrir o que somos, sentir vergonha de nós mesmos, de todos que vieram antes de nós e nosdesconectarmos de nossas raízes e memória. Um povo que não tem raízes e memória está fadado a cometer erros e ser escravizado. Não sejamos escravos, sejamos homens firmes e capazes de empreender uma grande missão: defender nossa terra e tradições,assim como foram nossos antepassados bandeirantes. *O autor é professor e Secretário-Geral do MSPI
1 Comentário
Ana Carlos
24/7/2015 14:38:22
Excelente, gostei das partes q cita os livros, aumenta a curiosidade para que os mesmos sejam lidos
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